09/12/2009

09/12 - Aniv do Vi

Era de tardezinha e fazia muito calor quando me assustei com o barulho do carteiro que batia palma no portão. Eu estava no fundo do quintal concentrada em cavar buracos na terra usando uma colher e depois fazer montinhos com a terra que sobrava. Em Itapetininga a terra é bem vermelha, uma delícia para brincar e se sujar. Gritei avisando a vó sobre a chegada do carteiro enquanto corria até o portão.
Uma carta! Como na tv! Eu estava recebendo uma correspondência, o carteiro era legal e eu sabia ler!

Voltei para dentro correndo com o telegrama nas mão e entrei pela porta da cozinha perto do pé de chuchu ainda gritando sobre a chegada da correspondência. O Max veio correndo atrás de mim enquanto a vó já nos esperava junto à porta. Ela abria o telegrama enquanto meu coração, acelerado pela curiosidade, parecia que ía sair pela boca. Ela leu que o neném havia nascido.
Como assim? O neném da minha mãe? Já nasceu?
Parecia mágico tudo aquilo do neném estar na barriga e depois nascer. Agora o neném já era alguém palpável e já poderia ser visto! E como eu queria vê-lo... Fiquei tão ansiosamentecontenteconfusaecuriosa, tudo junto, tudo agora, que tomei bruscamente o telegrama das mãos da vó e li, como se por eu mesma ler o neném pudesse se tornar mais palpável.

Lembro-me que entramos no ônibus, um Cometa daqueles antigos que tinham um cheiro forte nas poltronas marrons. A vó abriu um pacote de biscoito de polvilho e eu coloquei um em cada dedo, como se fossem anéis e então os comi. Não me lembro da rodoviária de Itapetininga mas me lembro da de Tatuí. Também não me lembro de como fomos da rodoviária de São Paulo até em casa, mas me lembro de estarmos lá, esperando meu pai sair do banho pra que fossemos logo ver o neném.

O hospital era lindo. Tinha uns vitrais por onde passavam raios de sol que refletiam no chão brilhante do saguão de entrada . Entramos por um corredor extenso, com portas dos dois lados. Arranjos com temas infantis e com os nomes dos bebês recém nascidos enfeitavam cada uma das portas. Meu pai pediu para que eu adivinhasse qual era o quarto da minha mãe e, entre tantas portas e tantos enfeites, eu corri até uma porta com uma pipa azul de rabiola comprida, toda de cetim. Eu sabia que era alí. Não sei como, mas eu sabia e era mesmo. Embaixo da pipa estava escrito "Victor - 09/12/91".

Entrei e beijei minha mãe, que repousava no leito vestindo camisola. Em algum momento entrou uma enfermeira com o neném no colo. Eu não conseguia ver direito, mas sabia que ele era lindo! Tão pequeno que parecia de mentira. Minha avó o pegou no colo e disse que era um menino lindo. Viu só? Eu sabia! Fiquei alí, pulando, querendo, pedindo. Ela me deu. Ajeitou o neném no meu colo e disse pra que eu tomasse cuidado com a cabeça dele.
Talvez tenha sido uma sensação só minha, mas acho que o mundo parou pra me ver com o neném no colo.

Ele estava cheiroso. Abriu os olhinhos e olhou pra mim. Que brilho! Que intensos! Um par de olhos grandes, arregalados, olhando assustados para mim. Parecia que aqueles olhos procuravam alguma coisa nos meus, enquanto os meus olhos se enchiam de lágrimas. Os olhos dele procuraram mas eu senti que não encontraram. Me deu uma sensação ruim, eu queria que ele encontrasse em mim!
Ele começou a mexer as mãozinhas e eu pedi pra que alguém o pegasse porque ele ía chorar. Ele chorou e os olhos fugiram dos meus. Já pesava nos meus braços quando a vó o tirou do meu colo, mas eu queria mais.

Ele foi pro colo de não sei quem e eu fiquei. Fiquei com um negócio forte, um sentimento sem nome. Fiquei lembrando de cada instante de tudo aquilo que acabara de acontecer. Contando assim parece que aqueles olhos nos meus ficaram fixos por muito tempo, mas na verdade não foi mais do que um minuto. Um minuto eterno.

07/12/2009

E o "semancol", esqueceu de tomar?

E aí recebo um e-mail que, dentre outras babozeiras, contém os dizeres:

"E aí mocinha linda, tudo bem?
Não quer mesmo falar comigo, neh?"

Como assim "não quer mesmo falar comigo"?!
Há exatamente 2 anos e 5 meses recebo, no mínimo uma vez por mês, e-mails e mensagens de texto dessa mesma pessoa sem NUNCA, eu disse nunca, (deu pra perceber a ênfase na palavra "nunca"?) ter respondido uma vez se quer.
Será que agora, 2 anos e 5 meses depois, pelo menos 29 e-mails e/ou mensagens SMS depois, deu pra perceber que eu realmente não quero falar?