14/04/2009

Museu da Língua Portuguesa


A foto foi tirada de dentro do ônibus, em algum lugar entre a Barra Funda e a Lapa.
Acho lindo o reflexo que essas luzes amarelas de poste fazem nas calçadas e nas fachadas de prédios. O reflexo fica ainda mais bonito nas poças d´agua que se formam nas ruas esburacadas e nas gotinhas de chuva que ficam nos vidros dos carros.

Sábado peguei uma chuva daquelas. Levei HORAS, mais de 3 certamente, para fazer um caminho que poderia ter sido feito em 50 minutos ou 1 hora. Fiquei literalmente ilhada dentro da estação Barra Funda por mais de 1 hora. O pior é que no fim das contas não consegui pegar o trem. Tive que pegar dois ônibus (além do metrô que já havia sido usado da Luz até a Barra Funda) pra chegar em casa.
E tudo isso por que?? Porque São Paulo parece ser feita de açúcar, não pode cair uma gota d´água sobre a cidade que tudo se desmancha. Tá, não foi só uma gota d´água, foi na verdade uma chuva pesada e demorada. Mas o que importa é que, forte ou fraca, garoínha ou toró, a chuva sempre deixa São Paulo um caos e que sábado a noite a cidade pareceu se desfazer, e eu, que saí do museu as 18hs, cheguei em casa pouco depois das 22hs.

Sim, museu. Fui ao Museu da Língua Portuguesa. (Aí está a relação entre o título do post e a foto. Eu a tirei quando voltava do museu). E que lugar maravilhoso! Foi a minha segunda visita a esse museu, e nesta vez não me maravilhei menos que na primeira.

Quando o Museu da Língua Portuguesa foi inaugurado, fiquei imaginando o que é que seria exposto alí, já que o acervo, a língua portuguesa, é algo imaterial e portanto não pode ser colocada dentro de uma vitrine ou pintada em quadros e exposta ao público. Seria então uma espécie de museu histórico que nos mostraria o nascimento e desenvolvimento da língua? Quase isso. Minha imaginação foi pelo caminho certo, mas passou longe da genialidade dos idealizadores e realizadores do museu.
Alí as coisas são mais simples do que se imagina e nem por isso menos maravilhoso do que possa parecer. O modo como tudo alí foi preparado, disposto e apresentado ao público é fantástico. O fato do museu não ter aquele aspecto grave, de coisas intocáveis e conteúdos inatingíveis o torna muito diferente e muito mais divertido do que outros museus. Tudo alí é interativo, moderno. O visitante participa da exposição e inclusive pode manusear parte do que está exposto, o que torna a visita lúdica, didática e interessantíssima tanto para adultos quanto crianças.
O Museu da Língua Portuguesa tem três andares. Em dois deles conta com um acervo permanente e em um abriga uma exposição, que é trocada de tempos em tempos, sobre algum escritor (da língua portuguesa, é claro). O autor da vez é nada mais nada menos que Machado de Assis. !!!!!!!!!! Sem palavras pra expressar o quanto eu gosto dele e o quanto a exposição está linda.
A Exposição, que leva o nome de "Mas este capítulo não é sério", nos aproxima do homem e do escritor Joaquim Maria a medida que vai desconstruindo a imagem de "medalhão" e de "imortal" que existe em torno dele e de sua obra respectivamente. Não que Machado não tenha sido um medalhão, menos ainda que sua obra não seja imortal, mas, apesar disso, nem o escritor nem a sua obra são inatingíveis e a exposição nos mostra exatamente isso quando nos apresenta a atualidade, a humanidade, a ironia e a divesão contida na obra Machadiana.

Isso pra mim parece ambíguo e contraditório, pois quanto mais conheço Machado, mais percebo sua humanidade, sua simplicidade e, ao mesmo tempo, percebo sua grandeza, sua genialidade. Quanto mais eu leio sua obra, mais percebo como sua escrita é simples e fluida e ao mesmo tempo complexa e rebuscada. Que difícil e delicioso!

Ainda sobre a exposição, ela foi organizada e dividida em capítulos, como se fosse um grande livro a ser lido e descoberto pelo "visitante-leitor". Esse grande livro segue a mesma linearidade e o mesmo estilo que "Memórias Póstumas de Bras Cubas". Digo o mesmo estilo em ralação a metalinguagem, a ironia, a conversa com o leitor (nesse caso visitante).
Ficar aqui, tentando explicar o inexplicável a quem me lê, não leva a nada. É impossível descrever um sabor com exatidão, e a obra de Machado é saborosíssima. Posso dar todas as referências técnicas da exposição e da obra desse meu querido autor, mas nunca serei capaz de fazer nascer no meu leitor o sentimento que é desperto através da obra machadiana e que a exposição me fez reviver. Desse modo, parafraseio Antonio Candido e vos digo: "O melhor que posso fazer é aconselhar a cada um que esqueça o que eu disse (…) e abra diretamente os livros de Machado de Assis.". Então, experimente e descubra você mesmo a delícia do sabor que lhe falo. Isso é tudo!
(Publicado em 10/02/09 no blog antigo)

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