13/04/2009

Outra hora releio e organizo melhor. Acho que essa "outra hora" nunca vai existir...

Nos últimos dias um certo tema tem vindo a tona muito constantemente em minha vida.

Trata-se de algo sobre o qual sempre pensei. Creio, na verdade, que todos algum dia pensaram sobre isso, mas, não sei se por causa da mania de sempre achar que conosco é diferente, ou se porque, de fato, isso é diferente comigo, creio já ter refletido muito mais profundamente sobre essa temática do que a maioria dos mortais ao meu redor.

Falo da vida e do que fazer com ela. Muito mais do que fazer com ela do que dela em si. Por que é que temos que trabalhar? Ganhar dinheiro, comprar carro, casar, ter filhos, tornar-se uma velha estável, avó compreensiva... tudo sempre do mesmo jeito, tudo sempre na mesma ordem... Por que? Para que? Não tenho certeza se é isso que eu quero pra mim.

Por que é que dizem louco o sujeito que não vive conforme as convenções? Esse simplesmente faz o que lhe é interessante ser feito! Por acaso não seria louco aquele que se deixa levar por um ritmo que não é o seu, e faz coisas que não quer fazer pelo simples fato de serem essas as coisas normais e comuns a serem feitas? É legal viver dentro de uma forma e ser obrigado a cortar de si próprio algo de que goste, mas que não cabe na forma?

Eu sei que vivemos num mundo capitalista onde se faz necessário um homem obediente, um homem que se encaixe num determinado padrão, que trabalhe para consumir e que consuma para trabalhar e todo esse blá blá blá, mas... porque não romper com isso?

O homem depende do Estado? Não! Os índios não trabalham (não da forma como compreendemos o trabalho), os índios não têm Estado, não existe democracia, monarquia, legislação, tributos... e nem por isso são uma sociedade desorganizada, uma sociedade sem cultura, sem tradição. O índio não é preguiçoso, ele é ocioso. E isso é bom!

Aliás, qual o problema com o ócio? A origem da escola está no ócio! O ócio é necessário, é tempo de refletir, de aprender, de fazer o que se quer fazer ou de, simplesmente, não fazer. Creio que pensar sobre o pensar seja mais interessante do que somente pensar. E isso não se pode ser feito em outro momento que não no ócio.

Queria eu ter tempo para o ócio! Mas o meu tempo anda ocupado em fazer dinheiro, em trabalhar para pagar as dívidas. Dívidas essas que só possuo porque trabalho. Ou por ventura, se eu não trabalhasse, precisaria comprar ternos, pagar ônibus, andar de unhas feitas, me enquadrar num padrão de beleza, num padrão de vida e de educação pré determinado por alguém que nem me conhece? Tudo bem que estudar é bom, mas estudar para ter um diploma? Isso não é nada bom, isso é ridículo! A gente aprende quando quer aprender ou quando se faz necessário aprender. Mas a necesidade tem que ser nossa, e não de outrem. Se tal assunto não for nosso falo, se não for matéria para a nossa curiosidade, aprende-se de qualquer jeito, decoram-se as coisas, ou, na maior parte das vezes, nem se aprende.

Mas enfim, esse assunto tem vindo a baila mais do que de costume nos últimos dias. Sei de umas pessoas que vivem de fazer o que gostam. Levam uma vida diferente da maioria. Não têm crachá, horário de entrada e de saída, não têm prestação de contas, estudam apenas para melhorar o que já fazem ou porque têm curiosidade sobre algo. O trabalho lhes dá prazer. Vestem-se com o lhes guardam do frio, comem o que mata sua fome. Têm a aparência que querem ter. Confesso que isso me causou uma pontinha de inveja. Não vivem com muito luxo, com muitas propriedades. A vida é simples e agradável. Vivem. R vivem bem. Além do que, para que serve viver com demasiado luxo ou ser possuidor de alguma coisa se não para competir com outros? Pra que? Isso não leva ninguém a nada.

Por outro lado, essas pessoas que vivem de fazer o que gostam recebem olhares de desprezo de uma sociedade que os desprezam e que os poucos que lhes aceitam bem, os chamam de "alternativos" e dizem deles coitados que não puderam ter melhor colocação na vida. Deve ser difícil enfrentar preconceitos e quebrar esse tipo de barreira diariamente. Não seria mais confortável uma vida menos "alternativa"? Quem sabe com algumas posses e algum luxo.Mesmo que o trabalho não seja tão prazeroso, mas os prazeres que o dinheiro, fruto deste trabalho, trará, paga por outros prazeres, tão distantes na vida "alternativa". Ficou confuso. Não consigo expressar com clareza tudo o que estou pensando.

Estou lendo um livro, "O Fio da Navalha", onde a personagem de nome Larry, um rapaz de 20 anos, é colocado diante de um dilema: aceita um bom emprego que lhe fora oferecido, casa-se com uma moça de boa família, torna-se um distinto senhor da mais alta sociedade norte-americana ou vai "vadiar" e buscar sanar, mundo a fora, suas dúvidas e inquietudes? Até onde li, Larry não teve dúvidas em deixar a moça a quem amava e todo o conforto que aquela vida de homem honesto para vadiar pela Europa efervecente do período entre guerras. E eu tive vontade de ir com ele mundo a fora, estudando grego, lendo bons livros, conhecendo gente bacana... chego a estufar meu peito num ímpeto de sei lá eu o que, que me toma a mente e me faz enchergar a mim mesma fazendo o que Larry fez e muito mais. Mas cá estou. Sentada diante de um computador, cansada após um dia de trabalho e anciosa em fazer compras de natal amanhã cedo, na 25 de Março, já que lá é mais barato. Nada mais capitalista, chato e enformado.

Aaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhh!!!! E alguém, pelo amor de Deus, pode me dizer como é que eu faço para me desenformar?? Na verdade eu até sei como faze-lo, mas... e depois? Como me sustento? O que como? Do que vivo?

Cultura, lazer, ócio, conhecimento... enchem a alma, mas não enchem barriga. E o mais importante em nossos dias: não enchem os bolsos. Mas os meus, mesmo trabalhando tanto já estão quase vazios mesmo... Sei, lá, me perco nos meus pensamentos e tudo é muito mais profundo do que o que eu consiga expressar escrevendo e, talvez, muito mais simples do que qualquer homem pudera imaginar. Enquanto não encontro modo de me desenformar, fico aqui, enformada, numa forma quadrada e fria em que fui colocada. E já que estou enformada mesmo, tento, ao menos parecer um bolo gostoso e mais atraente do que outros por aí. Vou dormir. Amanhã levanto cedo para ir as compras.

(Publicado em 19/12/08 no blog antigo)

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